É com muito pesar que vi parte da minha infância ser destruída pelo fogo. Presenciar as cenas que assisti ontem a noite na TV foram muito chocantes. Ver incêndio destruindo o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, causou dor e muita perplexidade. Esse era o meu sentimento que somos muito irresponsáveis com nosso país.
Provavelmente muitos de vocês não sabiam mas sou Carioca nascido na Ilha do Governador. Moramos por muitos anos em um bairro chamado Rocha Miranda, vizinho a Madureira (esse com certeza você já ouviu falar…). Um passeio muito tradicional na cidade é visitar a Quinta da Boa Vista que é uma grande área onde ficam o Zoológico e o Museu Nacional. Mesmo pequeno era muito interessante ver a grandiosidade daquele prédio e imaginar que ali foi a casa de alguém. Me perguntava: “Como seria morar em uma casa tão grande”? Na simplicidade de criança meus pais me levaram várias vezes aquele lindo recanto do Rio de Janeiro.
Hoje em dia não vou com tanta frequência a minha cidade natal mesmo tendo muitos familiares e boas recordações. Não tenho certeza quando foi exatamente minha última visita ao Rio mas lembro que desta vez estive no Museu. O que mais fiz durante o passeio foi comparar minhas dezenas de vezes que visitei os museus em Londres e algumas outras cidades e comparar com “meu museu de infância”. Quando morei na capital inglesa sempre via excursões dos colégios. Ficava imaginando como seria legal toda aquela experiência que poderia ser acumulada. Todo aquele material que os museus ingleses possuem em seu acervo (não vou questionar como conseguiram…). Foi pensando nisso que meu projeto na seleção do mestrado no PPGCCA/UFPB seria um aplicativo de Realidade Aumentada (RA) para aproximação de crianças aos museus. Seria a mesma tecnologia do Pokémon Go em prol da Educação.
O fato é que por todos os lugares por onde passei no mundo o museu é um ícone nacional. Não importa o tamanho mas existe um sério respeito pela história, pelos profissionais que ali trabalham, por todos que mantém vivo o que passamos e que ensinamentos podemos tirar dali e levar adiante conosco. Agora no Brasil não é assim… o incêndio destrói tudo!
Tudo exatamente igual com este incêndio
Quem mantém um museu é o povo mas quem representa o povo não pensa nisso. Todos pagamos impostos para que a Educação prevaleça mas ser educador é um ato de bravura neste país. O que percebemos é que mais e mais estão buscando destruir o futuro já que o passado está definhando. Se atrapalham a formação hoje das crianças e jovens nosso futuro estará a cada dia mais incerto.
Para todo lugar que olharmos na imensidão do nosso Brasil estaremos vendo algum incêndio como o de ontem. Desrespeito com as escolas, desrespeito com a história, com casarões centenários que estão caindo. Cidades históricas esfarelando são alguns exemplos de fagulhas neste pavio que está prestes a acender. Não vou citar meu Estado pois não é apenas uma reflexão local mas, para qualquer lugar que olharmos, estaremos vendo esta situação deprimente.
Boa parte deste problema está conosco por elegermos representantes que não possuem comprometimento mínimo conosco. Outra parte está em não incentivarmos o empreendedorismo como acontece nos lugares do mundo. Um museu não deve sobreviver substancialmente do dinheiro público. Possuem acervos fixo sim mas exposições que possam atrair recursos para sua manutenção. Temos que acabar com essa visão de que o Governo deve se responsabilizar por tudo. Os políticos estão utilizando isso em favor deles para que sempre estejamos submissos.
Precisamos fazer com que as universidades se aproximem mais da população através de projetos de extensão. Nossos professores devem sair do conforto das suas cadeiras e produzir resultados que possam ser aplicados na sociedade. Empresas precisam se conectar aos estudantes que estão em formação e necessitam de ambiente de estágio e formação profissional. Agora, esperarmos que tudo deve partir do Governo, é no mínimo loucura. Estamos na reta final de 2018. Sem esse comprometimento com nosso país, em outubro tudo vai continuar (e provavelmente piorar). Nos encontramos em uma situação de falência moral, econômica e política.
Que tal um exercício?
Convido você que está lendo este texto para juntos fazermos um exercício. Assista o horário político que será exibido hoje e procure no Youtube algum exibido 20 anos atrás. Você não perceberá nenhuma diferença nas imagens e conteúdos. Nada muda neste nosso cenário deplorável. Propostas seculares, frases de efeito, um Marketing e Publicidade cansativo que não agrega nada. Se nada muda, em breve teremos outros incêndios tão tristes ou até piores ao nosso redor. Gostaria muito de estar errado, de verdade.